O Acaso e a Borboleta

Hoje acordei lembrando de um curta que vi anos atrás na Cinemateca de Curitiba. A princípio não lembrava o nome, mas lembrava que a trilha sonora era do Guto Teixeira, cujo trabalho admiro muito.

Depois de um pouco de pesquisa encontrei O Acaso e a Borboleta, criado e dirigido por Tiago Américo e Fernanda Correa. A animação em rotoscopia foi realizada sem verba e ganhou (ao menos) 11 prêmios, dentre eles Prêmio Aquisição no Anima Mundi carioca e 2º lugar no Anima Mundi paulista, como melhor animação brasileira. Também ganhou um prêmio de melhor trilha sonora, que eu acho muito justo.

Espero que apreciem essa suave e breve história sem dialogos 😉

Paradise has many names

Em 2012 o Yahoo! lançou Electric City, uma série norteamericana em animação criada&produzida pelo Tom Hanks. Ao todo são 90 minutos de enredo divididos em 20 episódios. Na época o Yahoo! propagandeava a série como a primeira a ser lançada exclusivamente para a web mas, ainda que os episódios sejam curtos, a internet não era lá muito vídeo-friendly e acabei desistindo de acompanhar pelo quinto episódio.

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Recentemente tive vontade de saber como terminava a história e, olha, deu trabalho conseguir a tal série novamente. Pelo que entendo ela foi uma introdução ao jogo Electric City: The revolt, que pode ser baixado com facilidade nas app-stores da vida. No aplicativo que baixei tem todos os episódios disponíveis… só que não. Consta “Coming soon – Avaliable on 17/07/12” (!!), e no acesso ao jogo ele me direciona para um trailer igualmente desatualizado…!

Anyway, a série se passa em um futuro pós-apocalíptico em que a humanidade conseguiu se reorganizar em um agrupamento urbano onde energia elétrica é um privilégio a ser utilizado de maneira controlada. A manutenção da cidade depende de um certo rigor em relação ao uso dessa energia, pois ela é escassa, no entanto começam a aparecer diversos focos de uso indevido de energia.

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Em últimas a série trata do acesso à informação e seus usos e suscita questões a respeito de liberdade individual em relação a uma estrutura social fragilizada (mais por tradição e medo do que por fato, segundo me parece). Ao longo dos episódios vamos rapidamente conhecendo as diferentes facetas de um mesmo problema, enquanto os personagens se desenvolvem de maneira bastante interessante. Brincando com o tempo a série transita pelos caminhos que levaram os personagens a serem quem são no momento atual da história, com highlights para a anciãs que formam a intelligentsia de Electric City.

Sobre essas anciãs: trata-se de um grupo de senhoras que tricotam constantemente e se reúnem com frequencia para discutir o bom andamento da sociedade. Elas nos são apresentadas como as principais sobreviventes da hecatombe e, agora, com agentes secretos a seu serviço, atuam como consideram necessário para a boa manutenção das coisas.

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A animação é toda em 2D (yes!) e constitui um bom entretenimento!

Para os curiosos, segue o trailer 😉

 

Miya-san

Esta semana o grande mestre Hayao Miyazaki fez 74 anos, então nada mais justo do que dedicar este post a ele.

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No entanto, o post é sobre ele através do documentário The Kingdom of Dreams and Madness (2013), dirigido pela quase-novata Mami Sunada. Envolvida com documentários desde 2006, esse é o segundo filme que dirige – e roteiriza e filma e edita.

Logos nos primeiros segundos do longa, temos a sensação de estar vendo um desenho, só que de verdade. Paisagens naturais nos são apresentadas, então adentramos um prédio bem iluminado onde somos quase recebidos por um grande Totoro de pelúcia. Enquanto isso, uma suave voz em off nos conta sobre o que veremos.

Ao longo das quase 2 horas de filme, Sunada nos leva para dentro do estúdio Ghibli, onde vemos pessoas trabalhando com lápis, papel e pincéis – o modo Ghibli de se fazer animação em pleno século XXI. Aprendemos que Miyazaki trabalha todos os dias das 11h às 21h, inclusive sábados e feriados, que toma Yakult diariamente e fuma muito. Com sorrisos e risadas de sobra, é um homem de decisões rápidas, cuja rotina diária envolve necessariamente observar o céu, a natureza e as pessoas, e cumprimentar as crianças no berçário.

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O filme foi rodado em uma época muito feliz, tempo do desenvolvimento e conclusão do último filme do diretor – The Wind Rises. Miyazaki não escreve roteiros, desenha direto storyboards, e é esse desenhar que acompanhamos dia após dia. Observar seu trabalho, que é costurado com lembranças de seu pai e de sua infância no tempo da guerra, pouco a pouco nos dá a sensação de conhecer mais Miya-san, e entender melhor sua obra.

Além dele, o documentário nos mostra de perto a rotina de Toshio Suzuki, o produtor herói da Ghibli, e nos conta as fofocas a respeito de Isao Takahata – o trio alma do estúdio.

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Com um quê de melancolia e reprovação da pós-modernidade, Miyazaki pergunta se os filmes ainda têm algum sentido ou alguma valia. Acredito que ele como personagem, e Mami Sunada, como diretora, nos respondem essa pergunta – e a resposta dada é absolutamente positiva : )

Arigato, Miya-san!

Ernest et Célestine

Ernest et Célestine (2012) é uma animação co-produzida pela França e Bélgica, e triplamente dirigida por Stéphane Aubier, Vincent Patar e Benjamin Renner. O filme é baseado na série de livros infantis da belga Gabrielle Vincent, e o resultado é uma história leve e divertida.

O enredo gira em torno do urso Ernest e da ratinha Célestine, e da maneira como a amizade proibida deles coloca em questão a sociedade em que vivem. Para além disso, o filme trata do fazer arte e de ser artista, e do quanto nos parecemos com aqueles que consideramos nossos inimigos.

O verdadeiro ponto alto do filme é o seu visual. A impressão que temos é de que estamos realmente vendo um livro infantil dos anos ’80 em movimento. Fundos em aquarela, texturas em evidência, traços minimalistas… a vontade é de apenas VER o desenho, sem se ater às legendas. Outro belo aspecto é a trilha sonora, que ajuda a nos levar a outro tempo – um tempo handmade, sem excessos e com menos barulho.

Ernest et Célestine é um filme delicado, que não exige nada do espectador, e que ao fim nos deixa com a sensação de que a poesia pode ser, de fato, um desenho.

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Ps. Eu sou contra ver trailer ou making of antes de ter visto o filme, pois acho que eles entregam elementos que são muito mais legais se vistos pela primeira vez durante o filme, mas caso você não seja assim xiita, ou já tenha visto o desenho, recomendo este vídeo do Creators Project.

Wolf Children

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Logo nos primeiros segundos de Wolf Children (2012) uma voz feminina nos diz: “Talvez isso te pareça um conto de fadas. Inclusive pode ser que riam dele. Dirão que algo tão estanho é impossível. Mas definitivamente esta é a história da minha mãe. A pessoa por quem ela se apaixonou era um homem lobo”.

Wolf Children é um filme tão delicado quanto chocante, e o choque não se deve a reviravoltas mirabolantes e rocambolescas, mas à profundidade emocional que consegue atingir. Os personagens principais são Hana e seus filhos, Yuri e Ame, e ao longo de quase 120 minutos o diretor Mamoru Hosoda nos leva pela mão através do processo de crescer – e escolher quem se quer ser. Afinal, “ser adulto é saber a que mundo se pertence”, nos diz Hana.

Para além disso, o filme é um apelo à comunidade. Em um universo sem internet e gadgets modernosos, Hosoda nos mostra o quanto dependemos de nossos pares para aprendermos, vivermos, e, em algum sentido, sobrevivermos.

Este é o primeiro filme que vi de Hosoda e confesso que foi amor à primeira vista. Wolf Children é um filme emocionante, e está bem longe de ser apenas um conto de fadas. Wolf Children é um conto sobre viver.

Além de uma obra esteticamente belíssima, trata-se de filme tocante que dever ser visto e sentido : )

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Sky Crawlers

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Sky Crawlers (2008) é uma animação assinada pelo grande Mamoru Oshii, diretor do clássico Ghost in the Shell (1995) e de outros filmes não tão aclamados – mas também geniais.

Quando descobri o filme, a capa me deu a impressão de que se tratava de um filme dinâmico, cheio de violência e barulho. Qual não foi minha minha surpresa ao vê-lo!

O filme é bastante silencioso, com pontuais participações da trilha de Kenji Kawai (também Ghost in the Shell), e igualmente lento. A animação tem traços bem clássicos, contando basicamente com cores pasteis, e mistura 2D com 3D – nos indicando já na estética que as máquinas são mais reais do que os próprios personagens. A produção é do estúdio IG, responsável por toda a saga Ghost in the Shell (três séries + três longas) e o resultado dessa parceria, como sempre,  é excelente.

A história é complexa e se passa em um tempo não definido, um tempo que parece passado mas que conta com elementos futuristas, como homens geneticamente modificados que nunca envelhecem – os kildrens. O enredo gira em torno de Yuichi Kannami, um piloto que é designado para a base aérea 262. Desde sua chegada somos apresentados a uma série de elementos não resolvidos e mal respondidos que vão construindo a trama entre ele e a chefe Suito Kusanagi.

A história retoma temas que são caros a Oshii: almas sem corpos e corpos sem alma. Para evitar spoilers, digo apenas que esse universo em que o tempo é indefinido e que as máquinas são hiper-realistas, mesclados com a permanência (ou não) dos ghosts, resulta numa sensação de irrealidade que é marca registrada de Oshii.

Ao fim do filme (que merece ser visto até o final dos créditos), nos resta pensar o quanto esquecer e repetir faz parte, também, das nossas vidas.

Certamente um filme de arte : )

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